Audiodescrição das obras

Exterior ao complexo do Museu do Côa, ao ar livre, um longo muro de pedras, situado às margens gramadas de uma estrada pavimentada e ligeiramente curvilínea da Rua do Museu, recebe a intervenção da artista Ana Torrie.

Três chapas de cobre de 0,3 milímetros de espessura, cada uma medindo 1 metro de largura por 2 metros de altura, estão afixadas nesta pequena muralha em intervalos regulares entre si e os limites desta construção.

As finas chapas retangulares estão orientadas verticalmente e se apresentam como cartazes de imagens singulares na superfície de metal castanho-avermelhado. As formas recortadas livremente no interior de cada peça (ora com linhas curvas, ora retilíneas, com terminações sinuosas e pontiagudas) retratam silhuetas de figuras abstratas, emergentes dos contornos espontâneos promovidos pelos talhos de ritmos variados.

A parede que serve de suporte à instalação artística é construída com pedras xisto de diferentes tamanhos, formatos, cores e texturas. São predominantemente paralelepípedos alongados castanhos e cinzas, com faces lisas e rugosas, empilhados utilizando-se da técnica de construção de pedra seca (sem argamassa visível). Apesar da irregularidade do acabamento de seu topo, os xistos formam um monólito largo (mas não muito alto), que se destaca do cenário de fundo: um campo aberto com colinas e vegetação esparsa. Acima da parte mais elevada da estrutura, é possível de se ver alguma folhagem, bem como um portão baixo de metal em uma de suas extremidades.

Devido aos recortes feitos na folha metálica, a obra adiciona um elemento visual distinto ao entorno, que em contraste com o padrão de pedras naturais revelado em seu interior – e também para além das suas bordas – cria elementos animados inesperados. E, pela natureza reflexiva do material, espelha e deforma a paisagem ao seu redor dinamicamente, conforme a luminosidade do dia e o deslocamento de quem a observa.

Na parte externa do Museu do Côa, em frente ao parque de estacionamento, a artista Ana Torrie apresenta uma escultura abstrata de grandes dimensões (de aproximadamente 3 metros e 50 de comprimento, por 1 metro e 30 de largura e 1 metro e 70 de altura). A obra está pousada encima dos muros rochosos que sustentam o Miradouro do estabelecimento, cuja vista panorâmica dá para a paisagem montanhosa com colinas distantes e encostas em socalcos com vegetação primordialmente arbustiva.

O objeto escultórico, que se assemelha a um animal selvagem de aparência inventada, é construído a partir de uma combinação de vigas de madeira e inúmeras chapas de metal; e foi baseado na representação gráfica de uma criatura fantástica retratada na estampa da obra “Forma 3” – do artista Samuel Ornelas – (disponível para visitação na sala 2 de exposições temporárias do museu).

A estrutura principal da escultura consiste em barras retangulares de madeira (unidas por parafusos, porcas e anilhas), que formam uma estrutura esquelética com desenhos triangulares agudos e apêndices em linhas retas simples (também por vezes anguladas), que provém uma estrutura basal de quatro apoios sobre o solo de pedra.

Essas escoras, que se assemelham a extensos braços e pernas, estão colocadas em uma postura imponente e se estendem para fora, como uma moldura que mantém flutuante em seu interior uma massa central de peças metálicas emaranhadas, que compõe o crânio, o corpo, o rabo e as garras da criatura.

Este corpo de lâminas retorcidas remete a uma couraça feita de escamas metálicas, com cabeças e dorsos volumosos e as extremidades longas e delgadas. A cauda vai afilando, utilizando-se de chapas progressivamente menores até o seu fim. Já os dedos das mãos tem falanges cilíndricas, com terminações afiadas.

Os cilindros e chapas curvilíneas são materiais de superfície brilhante, feitos de cobre (de tonalidade castanho-avermelhada) e de zinco (de cor cinza-prateada), espessura ínfima e com diferentes tamanhos e formas, com bordas irregulares pontiagudas e arredondadas.

Cada chapa metálica é uma matriz calcográfica, que contém antigas gravuras da artista produzidas com as técnicas de água forte e de água-tinta. Em algumas é possível ver folhas de plantas e personagens antropomórficos. As inúmeras peças gravadas estão conectadas à estrutura de madeira e umas às outras por fios metálicos, contudo mantendo certa folga, a ponto de reagirem dinamicamente à presença do vento, sibilando e tilintando, com a passagem do ar.

De frente para a entrada da sala 2, na linha diagonal da galeria trapezoidal – a partir da sua parede mais extensa, recortada por uma janela estreita e alta (com 60 cm de largura e grandeza idêntica ao pé-direito da sala) -, o artista Samuel Ornelas expõe a sua obra formada por dois tecidos de ampla envergadura, que exibem (em faces opostas um do outro) estampas derivadas de matrizes xilográficas impressas à mão.

As cortinas altas estão suspensas verticalmente, quase em paralelo, como um corredor de interior escuro que se afunila em direção à fonte de luz natural em seu fim.

A instalação compartilha três perspectivas principais. As duas primeiras: pela observação dos desenhos gravados em ambos os panos na parte externa de cada mural. E a terceira: pela apreciação e interação com a passagem em formato de túnel com vistas para a paisagem externa.

Do lado de fora desse caminho projetado, a obra está emoldurada pelas paredes brancas vazias e o forro claro do recinto; e é destacada pelas luzes direcionadas ao seu lado estampado – que se espalham pela trama e refletem-se também no chão de cimento queimado polido.

Cada painel é composto por 80 pedaços retangulares de tecido liso, fino e sintético (100% poliéster), na cor verde-petróleo. Estes fragmentos estão justapostos em uma grade de 16 colunas e 5 linhas, em um total de 10 metros de largura por 6 metros de altura.

A primeira peça, à esquerda da porta de entrada, é a reprodução espelhada da matriz xilográfica que está disponível para visualização na sala 3 do museu.

A composição formada por imagens únicas, impressa apenas em tinta offset azul-metálico, apresenta-se de modo sutil, devido ao baixo contraste com a cor de fundo.

Apesar disso, é uma colcha de retalhos de desenhos complexos que retrata formas abstratas semelhantes a tecidos drapeados e outros elementos orgânicos, como folhagens, formas de bichos selvagens e silhuetas humanas em movimento.

Vestígios das figuras desse emaranhado surgem à medida que o observador se desloca pela galeria, mudando fisicamente o seu ponto de vista. A variação de proximidade em relação à obra revela novos traçados, antes ocultos pela incidência concentrada de luz, e esconde grafismos que estavam óbvios na superfície.

Já o segundo elemento têxtil reproduz com a mesma técnica uma nova estampa, porém em contrastante tonalidade cinza-prateada, que domina as extremidades em blocos uniformes de cor (que, ainda assim, transparece a textura dos veios da madeira matricial) e centraliza o assunto primário da cena retratada.

O objeto fundamental é uma representação de um corpo humano deitado coberto por um longo tecido com dobras e vincos, cujos volumes também podem ser percebidos como contornos naturais de territórios montanhosos e valares, bem como partes de estruturas anatômicas inspiradas em animais silvestres.

No reservado espaço retangular da sala 3, o artista Samuel Ornelas exibe um mural de matrizes xilográficas de grandes proporções. Ocupando quase a totalidade de uma das paredes da pequena galeria, a obra é constituída por 80 pranchas verticais de contraplacado de Bétula folheado a Tola. Elas estão dispostas em 16 colunas e 5 linhas, e se estendem do chão ao teto (em 6 metros de altura), e de um extremo da parede ao outro (em 10 metros de largura).

A iluminação direta, projetada por fontes superiores e de temperaturas de cor mistas, destaca o azul-metálico da tinta offset aplicado sobre toda a imagem em relevo do painel de madeira, em contraste com as faces adjacentes da sala, brancas e sem adorno, com o piso cinzento de cimento queimado polido e com a própria tonalidade (levemente amarelada) do contraplacado escavado.

O mural apresenta uma composição intrincada de desenhos que retratam formas abstratas semelhantes a tecidos drapeados e outros elementos orgânicos, como folhagens, formas de animais selvagens e silhuetas humanas em movimento.

Os talhos realizados pela goiva e outras ferramentas de corte criam contornos, volumes, luzes e sombras, por meio de linhas e padrões com diferentes espessuras ou pela retirada total da camada mais saliente, de modo a causar uma amálgama simbiótica entre essas figuras desconstruídas que, ainda assim, preservam sua essência.

A impressão resultante desse conjunto de matrizes pode ser vista na obra “Forma 3”, na sala 2 do mesmo complexo expositivo.